Werner Herzog
sabe como ninguém narrar uma história, seja ela através da narrativa do cinema
de ficção ou através de documentário. Em "Eis os Delírios do Mundo Conectado", disponível na Netflix, o diretor de "Fitzcarraldo", "O Homem Urso", "Aguirre, a Cólera dos Deuses",
"A Caverna dos Sonhos Esquecidos"
e "O Enigma de Kaspar Hauser"
conduz o documentário através de suas intervenções constantes (algo que
particularmente não gosto muito em documentários, quando o diretor aparece ou
deixa transparecer que está conduzindo a narrativa ao invés de dar a impressão
que seus "personagens" conduzem a narrativa. Sim, é uma ilusão, mas
uma ilusão que como expectador gosto de alimentar), que ao invés de soarem
intrusivas e de explicitarem o quanto o diretor conduz a narrativa, pelo
contrário, fortalecem o discurso e o propósito da reflexão através de reflexões
ponderadas e questionamentos pertinentes que se conciliam com a curiosidade construída em cada segmento
do documentário, separado em capítulos.
Procurando entender o fenômeno do mundo conectado, Herzog traça o histórico da criação da Internet e mostra sua faceta
progressista e como ela contribui para aumentar o conhecimento humano nas áreas
científicas, de maneira muitas vezes inusitadas.
Em contrapartida a utilização da Internet no âmbito social e pessoal muitas vezes tem potencializado
atitudes destrutivas e alimentado vícios e situações traumatizantes. Quando
vemos uma mãe dizer que a Internet é
a personificação do diabo, por mais que isso soe uma irracionalidade não
podemos culpa-la por dizer isso, dado o conhecimento de sua má experiência com
a Rede.
Quando Herzog vai
falar sobre o futuro da rede, não
deixa também de pôr em evidência o ar idealista ao mesmo tempo quase insano de
pessoas geniais que usam a internet para o avançado do conhecimento humano, mas
que quando pensam sobre o futuro se permitem extrapolar as barreiras entre
homens e máquinas. Abordando inclusive a falta da presença da Internet entre
astrônomos do projeto SETI em Arecibo, que não podem expor seus
satélites com as interferências provenientes da rede, Herzog retorna ao
tema mais caro construído ao longo de sua carreira: a relação do homem com a
natureza, nos fazendo refletir sobre como individual e coletivamente fazemos
uso da tecnologia que nos mantém conectados.
Eis os Delírios do Mundo Conectado
(Lo and Behold, Reveries of the Connected World, EUA – 2016)
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Com: Lawrence Krauss, Kevin Mitnick, Elon Musk, Sebastian Thrun,
Lucianne Walkowicz, Robert Kahn, Ted Nelson, Hilarie Cash, Christina Catsouras,
Sam Curry, Leonard Kleinrock, Tom Mitchell
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"Eis os Delírios do Mundo Conectado" - Crítica da Semana
Reviewed by CultComentário
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14:06:00
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