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"Esquadrão Suicida" - Crítica da Semana


Dando a impressão de que está correndo atrás da Marvel para retratar seus personagens no cinema, a DC investe numa estratégia fadada ao erro: enquanto a Marvel Studios produz seus longas de maneira rápida e apresenta um grande número de filmes solos dos personagens para convergirem num filme só que une vários heróis, a DC parece querer unir os heróis primeiro, sem que possamos ter contato com suas origens e sem que tenhamos empatia por eles e pecando em não criar motivações críveis. Assim, como “Batman Vs Superman”, este “Esquadrão Suicida” é muito carregado e tem uma tarefa grande demais nas costas. Mas se em “Batman Vs Superman” esse peso era sentido e  comprometia o  filme, mesmo assim o longa de Zack Snyder estava longe do desastre. Porém não posso dizer o mesmo do longa de David Ayer.


Contando com uma introdução que busca contar a origem de cada personagem que compõe o grupo ao mesmo tempo em que desenvolve as motivações e argumentos para a criação deste, as sequências que envolvem a presença do Batman de Ben Affleck em flashbacks é bem envolvente e divertida, porém o longa já peca pelo ritmo acelerado que propõe essas apresentações, além de colocar um espécie de ficha-técnica de cada personagem escrita na tela, uma solução visual pobre e esteticamente feia, deixando nesses momentos o filme visualmente carregado e não agregando nenhuma informação importante. As músicas que surgem ao longo do filme, com raras exceções, não ajudam a contar a história, e claramente muitas sequências sequer foram pensadas em serem montadas com aquelas músicas de fundo. Apesar de ser bacana ouvir Eminem, Quem ou Rolling Stones, raros são os momentos que essas músicas fazem sentido dentro da narrativa, surgindo e sumindo de maneira insípida. Até James Gunn em “Guardiões da Galáxia” compreendia essa lógica ao criar momentos que conseguimos lembrar do filme ao ouvir as músicas, algo que surge ao natural quando se procura conceber as cenas junto com a música de fundo previamente escolhida.

Se num primeiro momento o longa consegue convencer em estabelecer a necessidade daquele grupo e do controle que é possível se ter sobre eles, esse conceito já é imediatamente contradito pelo roteiro, escrito pelo próprio Ayer (“Corações de Ferro”), que ao invés de criar uma ameaça externa faz de um dos integrantes do grupo uma ameaça, contradizendo tudo o que fora estabelecido.

A ação que David Ayer tenta imprimir no filme se pretende constante, mas essa intensidade se traduz em sequências confusas, cheias de planos fechados e fazem com que o longa não se destaque dos demais filmes genéricos que assistimos todo o ano. Longe do domínio que, por exemplo, Paul Greegrass consegue imprimir em seus filmes, os cortes de David Ayer não possuem um encadeamento lógico para produzir uma ação memorável e nenhuma sequência específica se destaca das demais.

  
Joel Kinnaman como Rick Flag consegue passar o tom de autoridade ao liderar o grupo de super – vilões e encarna a tragédia de seu personagem, apaixonado por uma amaldiçoada June Moone, com muita competência, apesar de sua história ser jogada no filme pelo roteiro sem que este ao menos tente nos convencer dessa paixão. Cara Delevigne como June Moone / Magia consegue preencher os momentos que tem com suas personagens de maneira bem convincente e eficiente, pecando em seu desempenho no clímax do longa, em que, possuída, parece encenar uma espécie de dança que gera momentos de riso involuntário. Adewale Ainnuoye-Agbaje interpreta um Waylon Jones/Crocodilo que não diz a que veio, serve para fazer algumas poucas piadas e participa pouco da ação. A Katana de Karen Fukuhara é aquela típica personagem colocada pelo apelo visual que carrega, e quando o longa procura contar a sua história é como se não tivesse dito nada, tamanho o distanciamento criado com a personagem desde que ela surge. Jai Courtney como Capitão Bumerangue serve unicamente para ser o alívio cômico (mais um) ao longo do filme, além de aparecer e desaparecer conforme as necessidades do roteiro. Will Smith tenta dar credibilidade ao seu Pistoleiro, que tem uma história das mais indulgentes, que se resolve de maneira insatisfatória e nem um pouco crível, além de ocupar muito tempo de tela, talvez por ser o próprio Will Smith, monopolizando o filme para si. Jay Hernandez como El Diablo tem uma história bem calculada para ser trágica e sentimental, conseguindo um bom desempenho mas que não se destaca do resto. A Arlequina de Margot Robbie rouba a cena constantemente, conseguindo exprimir a loucura da personagem e criar momentos memoráveis, como a sequência que se passa dentro de um elevador, o meu momento preferido da personagem. Porém à medida que o filme passa da primeira metade Arlequina começa a se tornar repetitiva e num tom só, querendo constantemente reiterar a sua loucura para todos os personagens. David Ayer inclusive resolve explorar a beleza de sua interprete quase todo o tempo, focando nas suas reações, nunca a perdendo de vista, exagerando nas piadas e comentários à aparência da personagem e filmando a bunda da atriz sempre que pode. Isso, somado ao fato da personagem usar uma espécie de coleira com o apelido que dá ao seu “dono”, tomar um soco na cara em dado momento do filme e ter como maior sonho uma vida comum num lar ao lado dos filhos e de um marido, não é de se duvidar que dê pra considerar o olhar do diretor e roteirista por demais machista. Como já era de se esperar, Viola Davis encarna sua Amanda Waller com segurança e autoridade, tentando criar uma personagem complexa e tridimensional sempre que pode. Por fim chegamos ao Coringa de Jared Leto, a maior decepção do filme. Aparecendo em momentos pontuais da trama, David Ayer é completamente descuidado em não criar uma apresentação para o personagem, simplesmente o joga na tela sem que possamos nos preparar com uma nova leitura do Coringa. Já Jared Leto parece não compreender bem o seu personagem. Afetado, com uma entonação de voz que parece inspirada na interpretação de Heath Ledger, o seu personagem mostra os dentes constantemente e nos premia sempre que aparece com uma risada fria e constrangedora. Jared Leto pode estar tentando exprimir a loucura de seu personagem, mas peca em não parecer insano o suficiente para envolver o público e, numa bela cena de flashback em que ele e Arlequina estão num barril de ácido, fica a maior pergunta do filme: como a interessante personagem de Margot Robbie foi se apaixonar por um Coringa monótono que é simplesmente inacreditável como o maior antagonista para o Batman de Ben Affleck? Infelizmente Jared Leto exala o vazio de uma atuação que não sugere muita coisa.

Contando com uma fotografia que tenta criar cores, com o destaque para o verde-esmeralda que sempre sugere a ameaça ou o fantástico, essas paletas de cores são pontuadas dentro do clima dessaturado que a maioria dos filmes da DC investe, criando um visual interessante e que se destaca, mesmo que em vários momentos acabe lembrando o visual de circo gótico  que Joel Schumacher usou em “Batman: Eternamente”. A direção de arte é bem eficiente em muitos momentos na concepção visual dos personagens e, em particular uma cena que envolve a personagem June Moone se transformando em Magia, narrada com um simples plano das mãos das personagens representa um belo uso dos efeitos visuais em prol da caracterização da personagem. A música original composta por Steven Price é burocrática e previsível em criar a sua parcela de drama quando necessário e pontuar a ação quando preciso, sem se preocupar em criar um tema específico para os personagens.

Dessa forma, contando com uma resolução fácil e deixando muito a desejar, “Esquadrão Suicida” é o exemplo do quanto a DC pode passar longe de construir personagens complexos e críveis em enredos coerentes. Para atingir a excelência que já fora já alcançada com “Superman – O Filme”, de Richard Donner, ou com “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan talvez a DC devesse investir em diretores mais alinhados com as obras que pretende produzir, podendo voltar a ocupar o patamar que já atingira muito tempo antes da Marvel sequer pensar em produzir filmes de sucesso.



Direção: David Ayer

Elenco: Will Smith, Margot Robbie, Viola Davis, Jared Leto, Joel Kinnaman, Cara Delevigne, Karen Fukuhara, Jay Hernandez, Adewale Ainnuoye-Agbaje, Jai Courtney

Roteiro: David Ayer

Produção: Charles Roven, Richard Suckle

Fotografia: Roman Vasyanov

Música: Steven Price

Montagem: John Gilroy

Design de Produção: Oliver Scholl

Figurino: Kate Hawley

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"Esquadrão Suicida" - Crítica da Semana "Esquadrão Suicida" - Crítica da Semana Reviewed by CultComentário on 13:31:00 Rating: 5

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